Essa é uma página do livro: O robô além do bosque. Um livro escrito por Maicon Moura e serializado aqui no substack. As paginas são enviadas para pessoas que apoiam o projeto Mouranius. Caso queira ler clique no botão abaixo.
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Esperei o professor na rodoviária da cidade. Já haviam passado uns três dias desde que ele me ligou e nas mensagens disse que já estava no ônibus vindo conferir o robô.
Antes de sair de casa, minha esposa estava deitada de ressaca. Na noite anterior, fizeram algum levantamento na empresa, foi o que parecia que ela estava dizendo.
Ela chegou tarde da noite, bêbada ao ponto de não conseguir abrir o portão. Não vou culpá-la, a porta está começando a travar e algumas vezes precisamos abrir o portão maior que está começando a emperrar. Deve ser alguma coisa nos trilhos, disse o vizinho quando saiu de sua casa assustado achando ter ouvido um gato sendo triturado, mas era apenas o portão gemendo para a rua toda acordar.
Minha esposa costumava beber quando saía com os amigos do trabalho. Isso só acontecia no dia em que eles averiguavam alguma coisa e essa coisa estava com algum problema.
— O sistema holístico estava fora de sincronia temporal. — Ela disse em uma das vezes.
Sinceramente, eu gostava muito da ideia de não nos intrometermos no trabalho um do outro. Se ela me pedisse opinião sobre o trabalho dela, eu ficaria com muito medo de assumir que não fazia ideia de qual era sua função.
Antes de eu sair rumo à rodoviária, minha esposa murmurou alguma coisa sobre eu tomar cuidado com o velho. Entre dentes ela disse que ele poderia ser um sequestrador ou algo do tipo. Ou talvez ela tivesse pedido um remédio para dor. Bom, eu só pensei nisso quando estava a duas quadras de casa.
A rodoviária ficava a uns trinta minutos de caminhada. Eu não dirigia, não sabia sobre os horários dos ônibus e caminhar parecia algo necessário para um sujeito sedentário como eu.
Suei tanto que aparentava ter sido pego por uma chuva absurda. As pessoas desviavam para não encostar em mim. Estava com o cabelo molhado, camiseta ensopada. Parecia um legume cozido no vapor.
As pessoas numa sauna teriam inveja de me ver daquele jeito.