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Já faz um tempão que não sento para escrever.
Não consigo imaginar há quanto tempo exatamente, mas sinto falta de dedicar as manhãs a escrever algo. Normalmente, não pensaria em fazer um texto dizendo que estou voltando a escrever por aqui; isso parece uma falsa promessa, e talvez eu ainda não esteja pronto para esse retorno.
Mas farei isso. Vou te dizer que voltei a este projeto. Mentirei dizendo que sei o que quero e para onde estou indo com ele. E você não vai saber que é uma mentira. Isso, talvez, nem importe tanto para você.
No entanto (hehe), eu passarei o dia me remoendo sobre isso, me perguntando se é realmente o que quero fazer. Existe essa dualidade em mim: amo escrever, mas, ao mesmo tempo, a odeio.
Talvez eu tenha perdido aquela magia da escrita, sabe?
Aquela romantização padrão da pessoa que se senta para criar mundos, histórias, personagens. A audaciosa ideia de que, diante do teclado, a cada toque, eu me torno um Deus controlador e tudo o que acontecerá será decisão minha.
Na verdade, nem sei se já tive esse tipo de pensamento.
Eu apenas costumava escrever, sentar numa madrugada como esta, ouvir a brisa fria balançar as plantas e deixar a mente seguir um planejamento prévio de algum conto ou romance que passei semanas mastigando no fundo da cabeça.
Ou, como hoje, sentar para escrever algo para você.
Sempre digo que o mais difícil — para mim — é o ato de sentar para escrever. Parece um bloqueio, de certa forma. Anoto as ideias, mastigo-as antes de escrever. Fico repassando na cabeça, adicionando e retirando, mudando e reorganizando. Penso tanto antes de me sentar diante do teclado.
E quando chega o momento, aquela ideia que parecia tão boa, na verdade, se transforma em um punhado de nada. Ela vira uma péssima ideia ou eu simplesmente esqueço a sensação que deveria transmitir.
Talvez um dos meus maiores problemas seja esse: seguir as sensações que as ideias me dão.
Não sei explicar bem, mas normalmente, quando tenho uma ideia, me agarro à lembrança do momento em que a tive. Como se a ideia precisasse transmitir aquilo que senti quando nasceu. No meu romance Cigarro e Anéis no Rabo do Gato, vivi exatamente isso.
Cada conto foi escrito tentando replicar a sensação e emoção do momento em que a ideia surgiu.
Provavelmente, isso cria bloqueios criativos, me levando a procrastinar em algo que gostaria de fazer. No fim, afirmar que vou voltar, fazer algo como um comeback, é tão arriscado e inseguro que me assusta pensar que não consigo manter algo que amo em andamento.
Isso provavelmente exigiria meses de terapia para entender o motivo ou a falta dele por trás desse fenômeno.
De certa forma, aqui estou te dizendo que, após alguns meses, estou de volta.
Não sei se será do mesmo jeito. Nem sei de que jeito será. Mas fico feliz de estar aqui, ouvindo o vento entrar pelo vão da janela e balançar as plantas do escritório.
Feliz por apreciar o silêncio da madrugada mais uma vez, sentir o cheiro do café e poder escrever isso para você.
Outras coisas
— tenho lido muito nesses últimos meses, e tem sido uma das melhores coisas que já fiz. Entre livros e péssimas noticias me agarro aqui no substack para ver qualidade:
— no quesito musical, encontrei essa cantora BR que acabei ficando viciado:
algo útil
— R$5,45. será que teremos o dólar abaixo de 5 reais ainda esse ano?
mouranius?
escrito e às vezes ilustrado por Maicon Moura — que sou eu, escritor e designer e duble de cronista.
— Tá aqui ainda? A nius já acabou, vai trabalhar, vai!
Bem-Vindo de volta! (até o próximo sumiço)
O peso que a gente coloca nas coisas pesa demais. Vai com c(alma).
Como sempre, me vi em suas palavras. Abraço!