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O buraco é mais fundo.
Quando você olha para baixo, aquele monte de terra molhada. Suas unhas sujas. Seus joelhos encharcados. O som entra pelo topo do buraco. Lá em cima, no céu azul, a única luz que existe se distancia de tudo o que você acreditava.
O vento sopra e, quando passa pelo buraco, você pode ouvir um uivo melancólico se arrastando pelas paredes sujas.
No fundo, você nem imagina como chegou. O tal do fundo. O problema era mais embaixo. Bem, no fundo do poço. No fundo do buraco.
Nesse profundo e vazio sentimento de solidão, folhas caem ao seu redor e te fazem lembrar que existe algo lá fora. Algo que talvez você tenha ignorado no momento que fechou seus olhos e cavou.
Cavou tentando descobrir algo. Cavou tentando resolver outra coisa. Escavou com as próprias unhas alguma coisa que nem lembra mais. O som dos pássaros nos galhos está distante e você teme que talvez nunca mais veja aquele sorriso que te fazia sonhar todas as noites com uma vida melhor.
Com os joelhos no chão, sentindo a lama molhar sua calça, você se prepara para continuar cavando. Para resolver aquilo e para melhorar sua vida, o jeito é continuar cavando. O problema é mais embaixo. O segredo está no fundo.
Quando você chega no fundo do poço e percebe que é o fundo. Você tem que parar de cavar. Respirar fundo, uma ou duas ou três vezes. Puxar o ar para dentro dos seus pulmões. Encher e segurar.
Parar por alguns momentos para perceber qual era o problema que estava tentando resolver. Pensar no que foi fazer ali. Como um chamado, você escuta os pássaros. Eles parecem gritar seu nome, para sair de dentro desse buraco sujo. Eles querem que você saía e sorria.
"Tome um banho", você vai ouvir de um deles, um pássaro amarelo, pousado num galho de uma árvore cujo nome você não sabe. Ele dirá para você limpar as unhas. Lavar o cabelo.
Para isso acontecer, você tem que parar de cavar. Olha em volta. Veja quão fundo você chegou. Nossa, olha só que maravilha. Cavou e cavou. O que melhorou?
Suas mãos não estão doendo? Para onde você está indo?
Disseram que você precisava de ajuda. Mas não te mandaram uma corda. O que é aquilo? Jogaram uma colher? Que tipo de ajuda é essa? Que tal uma escada? Quem sabe pular aqui e cavar com você?
Pare de cavar. Não olhe para o buraco. Olhe para cima. Veja o céu azul. Olha como as nuvens dançam e esperam que você saía para dançar com elas. Olha lá o pássaro amarelo que te falei, vamos, suba.
Esqueça a escavação. Não tente lembrar o que veio fazer aqui. Vamos sair. Olhemos para cima.
Isso mesmo. Suba. Tudo será melhor quando você parar de cavar. Tudo melhorará lá em cima. Não precisa chorar. Só continue subindo. Pode ser cansativo, mas tenha a mesma motivação que teve para cavar. Sei que seus dedos doem por conta de toda a terra entre suas unhas. Mas falta pouco. Encha os pulmões de ar.
Consegue ouvir o tal do pássaro amarelo? Consegue sentir o vento? Consegue ver o sol?
Vamos, esqueça isso de ser mais fundo. Vem aqui, vem me dizer o que você tentou achar.
enquanto meu novo livro não sai que tal conhecer meus contos em Cigarro e Anéis no Rabo do Gato?
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